Para alguns, as aspirações ficam retidas no campo dos sonhos. Outros canalizam seus desejos do universo infantil para a vida adulta. E se transforam em exemplo de sucesso, de trabalho e de abnegação.
É nesse grupo que está Marcelo Augusto Rodrigues, 20 anos, bombeiro voluntário que será homenageado nesta quinta-feira (13 de julho) na cerimônia em comemoração aos 125 anos do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (CBVJ).
O certificado é um reconhecimento por ter cumprido duas mil e 46 horas em escalas operacionais durante o ano de 2016. O tempo corresponde a 85 dias de serviço voluntário, ou 170 plantões de 12 horas.
O envolvimento de Marcelo com o universo bombeiril começou cedo. Na primeira infância ganhava de presente da mãe, dona Áurea Amélia, caminhões, ambulâncias e outros apetrechos dos “soldados do fogo”. Depois, quando menino, corria pelas ruas do bairro São Marcos ao ouvir a sirene das unidades de combate a incêndio.
Bombeiro mirim
As palavras fluem com naturalidade. “Eu corria e pensava que um dia iria sentir isso, a emoção de estar lá e ajudar o próximo. Seria um deles. O amor ao próximo é isso que me mantém na corporação”, resume agora, vestindo o tão almejado uniforme cinza e vermelho.
Aos 10 anos, ao mesmo tempo em que o sonho ganhava novos contornos, Marcelo começava a se envolver com atividades na comunidade. Primeiro foi a fanfarra na Escola Municipal Paul Harris; depois, o grupo de escoteiro; na sequência, o Pelotão Mirim do 62BI e, finalmente, aos 13 anos, o Programa Bombeiro Mirim.
Assim que chegou aos 18 anos, encarou dois desafios: fazer o curso de formação de bombeiro voluntário para, de fato, ingressar no quartel e, outra ingressar no mercado de trabalho. O primeiro, não encontrou dificuldades e a equipe Alpha ganhou um reforço. E foi na grande família dos bombeiros que Marcelo encontrou apoio para seguir na árdua tarefa do primeiro emprego. “Foi a minha segunda casa”, não esconde.
Primeiro emprego
É com emoção que o bombeiro voluntário recorda dos anos de 2014 e 2015. Marcelo buscava o primeiro carimbo na Carteira de Trabalho justamente nos anos de profunda crise econômica e era só mais um que passava os dias entregando currículo. Foi Jovem Aprendiz na Amanco; depois, temporário no Grupo FT Segurança. Mas nada da efetivação.
Desanimar? Nunca. Desvirtuar? Jamais! Entre as tentativas e espera, Marcelo se dedicava aos bombeiros voluntários. Até que no começo deste ano chegaram as recompensas, e em dobro: ele não só atingiu o volume de duas mil e 46 horas em escalas como também conquistou o registro na Carteira de Trabalho. Desde fevereiro Marcelo é auditor de qualidade na área de controle da Tupy.
E agora, parar? Também não! São os planos que movem o rapaz. Na corporação, é necessário aprimorar as técnicas de combate a incêndio e resgate veicular, as especialidades onde atua. No campo profissional, o desejo é fazer um curso técnico em segurança no trabalho para ampliar as condições de empregabilidade.
Experiências
A rotina de bombeiro nem sempre reserva as melhores lembranças. E foi uma ocorrência triste que marcou as primeiras ações no CBVJ, em 2015. Marcelo Augusto recorda um resgate veicular na BR-101, nas imediações do viaduto sobre a rua Ottokar Doerffel. Na batida entre um carro e um caminhão, o veículo menor incendiou. Mas o motorista conseguiu salvar a filha, entregando o bebê para o condutor do caminhão envolvido no acidente. “O pai deu a vida para salvar a filha”, conta.
Por outro lado, há outros momentos que servem de “combustível” para a vida no quartel. “Quando conseguimos salvar, nem que seja uma parte pequena de uma casa que incendiou, vemos a alegria das pessoas”, justifica. “Eles aplaudem. E isso já nos deixa contentes”.
Herança
“Muitos já me chamaram de louco por trabalhar de graça”, desabafa. E a resposta vem embargada de emoção. “Eu não sou louco. Eu sou a pessoa que um dia vai estar lá para te salvar, se precisar!” É assim, entre desafios, dentro e fora do quartel, que Marcelo e outros 73 bombeiros voluntários acumularam mais de 500 horas em escalas somente no ano de 2016.
No dia do aniversário de 125 anos, todos serão aplaudidos. Muitos estarão com lágrimas nos olhos. “Quero um dia contar muitas histórias. Enquanto tiver a chance, é aqui que quero estar. E deixar o voluntariado como herança”. O desfecho não poderia ser melhor!