Medalhas, botons, diplomas, títulos e placas em homenagens — alguns destes itens aguardados há mais de 50 anos — foram doados para o Museu Nacional do Bombeiro Voluntário pela família do ex-comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, Henry Schmalz, morto em junho do ano passado aos 94 anos. Depois de identificadas e catalogadas as peçam vão compor, a partir do segundo semestre, exposição permanente que preserva a memória da corporação.
“O bombeiro foi uma paixão do meu pai”, diz Tessa Schmalz ao justificar o gesto. Segundo ela, o desejo da família é compartilhar com as pessoas, por meio dos objetos guardados pelo pai, o amor que ele tinha pela corporação e a importância dos bombeiros voluntários no contexto histórico da cidade e a representação que ambos — instituição e comandante — tiveram no cenário nacional. Outras peças, como capacete, fardamento operacional e indumentária de gala foram doados ao acervo ainda em vida por Henry Schamlz.
A historiadora e museóloga, e também coordenadora de projetos do CBVJ, Dolores Carolina Tomaselli, mostra a satisfação em receber peças com tanto valor afetivo e que ajudam a contar a história dos bombeiros. “Ao longo dos 126 anos de corporação, as memórias acabam-se perdendo. Mas quando alguém guarda uma coleção tão valiosa, o sentimento é de muita alegria e orgulho em poder compartilhar.”
Exemplares
Entre os objetos doados estão alguns marcos da dedicação de Schmalz aos bombeiros, como a medalha em reconhecimento aos seus 25 anos de serviços (1969) ao CBVJ; a placa em homenagem aos 40 anos (1989) e a tela que reproduz um pergaminho em comemoração aos 50 anos de dedicação (1994) concebida pelo artista plástico Luiz Si.
Já o conjunto de medalhas revela os laços estreitos com a comunidade e com corporações de outros países e Estados, particularmente com o extinto da Guanabara. Foi lá que recebeu, por exemplo, a medalha comemorativa ao segundo centenário de nascimento de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1963), o patrono da Independência do Brasil. Uma dessas lembranças também marca a presença de Henry Schmalz no Primeiro Congresso de Bombeiros do Brasil e intercâmbio na Alemanha. Ele guardou com carinho, em um estojo de veludo, a medalha que recebeu da Cia. Hansen, em julho de 1979, pela passagem do Dia do Bombeiro.
Reforma
Segundo Dolores, os objetos de Henry Schmalz serão expostos no novo espaço do Museu Nacional do Bombeiro Voluntário, no piso superior do prédio histórico do CBVJ. O circuito de visitação, hoje restrito a ala direita do térreo (vista da rua Jaguaruna) será ampliado após a conclusão da reforma. As obras vão resgatar as características arquitetônicas originais construção, inaugurada em 1956. A primeira fase do projeto foi concluída no primeiro semestre de 2017 e compreendeu a restauração da torre onde ficou instalada, por muitos a anos, a sirene de aviso de incêndio.
Nesta etapa da reforma do prédio (ala esquerda) foi feita a remodelação do espaço para abrigar a recepção, salas do comando e área do Centro de Atividades Técnicas (CAT). A maior intervenção foi a restauração da cobertura entre a torre e o corpo principal do prédio, resgatando sua visual e função original.
Quem foi Henry Schmalz
Bisneto do superintendente municipal João Paulo Schmalz — que em 1895 reconheceu e oficializou o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville —, Henry Schmaltz era filho de bombeiro e teve sua vida ligada à corporação. Em 1⁰ de novembro de 1944, prestes a completar 20 anos, foi admitido na corporação e assumiu o comando em 22 de agosto de 1962 substituindo o comandante Guilherme Metzer. Sob sua batuta o Corpo de Bombeiros passou por grandes transformações, resultado do investimento na qualificação técnica dos bombeiros e equipamentos.
Schmalz ocupou o posto máximo do operacional até 11 de agosto de 1971. Em sua gestão foi implantado o plantão permanente dos bombeiros. Sua saída se deu em virtude de compromissos de trabalho – ele era comandante voluntário que seguia em paralelo a uma carreira profissional. Como técnico mecânico e eletricista dividiu sua vida profissional entre empresas como a Tupy, Hansen, Arp, além de ter sido instrutor do Senai e professor da Escola Técnica Tupy.
Mesmo não estando no comando da instituição, se notabilizou pelo intenso trabalho de “conselheiro dos bombeiros” seja nas questões referentes à gestão da instituição, seja na parte operacional. Aos 88 anos, em 2012, Henry foi designado comandante de honra do CBVJ e foi um grande incentivador do modelo voluntário.