Waltrudes Hagemann Klitze guardou as lembranças de Frederich Herich Pensky, que fez parte do Corpo de Bombeiros Voluntários da Fiação Colin, Lepper e Cia. Ltda
1910, o último ano da primeira década do século passado indicava uma próspera Joinville. Havia 33 anos que a Colônia Dona Francisca fora elevada à categoria de cidade; há quatro, fora inaugurado o trecho da Estação Ferroviária até São Francisco do Sul; fazia três anos que moradores viram chegar o primeiro automóvel, importado por Adolfo Trinks; há dois, algumas residências eram iluminadas graças a energia gerada na Usina do Piraí, inaugurada em 1908. Na Rua do Príncipe eram colocados trilhos para passagem do bonde puxado a burros e as bicicletas tomavam cada vez mais as ruas da cidade; sobre o Canal do Linguado era inaugurada a ponte de 120 metros, com três vãos de 40 metros, e centro giratório capaz de permitir a passagem de embarcações maiores; próximo ao Porto Bucarein, às margens do Cachoeira, começava a ser erguido o Moinho Joinville.
No dia 10 de julho daquele ano, três dias antes de a Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville completar 18 anos de fundação, nascia Frederich Herich Pensky. Quando adulto, seria alfaiate por ofício, empregado na Alfaiataria Mundial, mas seria entre os “bravos soldados do fogo” que ele deixaria as memórias mais marcantes para a família. Como muitos bombeiros voluntários, Pensky era frequentador assíduo da Sociedade Ginástica – se destacava na barra e solo — e, no período de 1935 a 1940 fez parte do Corpo de Bombeiros Voluntários da Fiação Colin, Lepper e Cia. Ltda — as atualmente chamadas brigadas de incêndios das indústrias. Nessa condição, recebia treinamentos do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville e até auxiliava nos combates a incêndios na cidade.
A participação do pai em combate a incêndio em uma indústria, que o deixou ferido, é uma das memórias mais vívidas de Waltrudes Hagemann Klitze, 85 anos. O “olhar profundamente azul” pousa com orgulho sobre os objetos que remetem ao pai bombeiro — um quepe que fez parte do uniforme e fotografias em preto e branco — e com voz pausada, carregada de emoção, ela narra o episódio que marcou a sua meninice: “durante o incêndio, caiu uma viga sobre a cabeça do meu pai e ele precisou ficar internado em hospital por vários dias. Lembro que minha mãe chorava e nós, cinco crianças, deitávamos na cama deles, com minha mãe, para orar. Quando ele teve alta, voltou para casa com a cabeça raspada e vários pontos com um fio preto.”
Mas nem só de incidentes são as lembranças de Waltrudes sobre o período que o pai conviveu com os bombeiros voluntários. Os olhos brilham ao contar sobre os bailes realizados na Liga da Sociedade para comemorar o aniversário da corporação, encontros e treinamentos. Parte dessa história está retrata em fotos que foram carinhosamente guardadas por ela durante 35 anos, desde que o pai faleceu, em setembro de 1984 aos 74 anos. Em outubro deste ano (2019), Waltrudes decidiu doar os itens — réplicas de foto e o quepe — para o Museu Nacional do Bombeiro Voluntário como uma forma de homenagear o legado do pai e valorizar a história da corporação. “O amor que ele tinha pelos bombeiros voluntários merece ser reconhecido. É também uma forma de preservar sua memória”, disse.
A vice-presidente da Associação Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville e diretora do Museu, Dolores Carolina Tomaselli, ressaltou a importância da preservação dos materiais bem como a doação para o acervo. “São gestos de pessoas, como dona Waltrudes, que nos permitem manter viva a história, resgatar valores e manter a tradição dos Bombeiros Voluntários de Joinville”, disse. Em agradecimento, Dolores presenteou Waltrudes com os livros “Soldados do Imprevisível” (3ª edição), lançado nos 125 anos da corporação, e o “Atas Históricas do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville — 1892 a 1938”, lançado em agosto deste ano em comemoração aos 190 anos da imigração alemã para Santa Catarina. Nos próximos meses, com o fim da reforma do Prédio Histórico do CBVJ e espaço para as coleções do acevo do Museu, os artigos doados farão parte da exposição permanente.