Ouvidos abertos e olhos atentos a cada orientação e gesto da professora Henriette Hillbrecht. Aos poucos, o quadro é preenchido por notas e pautas. Na hora da leitura, reverbera o som das sílabas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si! Assim são as manhãs e tardes das terças e quintas-feiras em uma das salas de aula da Unidade Central do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville para 50 alunos do programa de iniciação musical do Polo de Produção Musical.
As turmas são formadas por meninos e meninas a partir de 10 anos – oriundos do Bombeiro Mirim e da comunidade -, adolescentes e até mesmo por bombeiros que se propuseram a resgatar uma das tradições da corporação. “Este momento é como um trampolim, é uma escola de base para a Banda dos Bombeiros”, diz o regente Geraldo Garcia da Rosa. “Se algum deles desistirem antes de chegar lá, mesmo assim fizemos um belo trabalho, formamos cidadãos!”
É da professora da banda experimental, Henriette, a missão de ensinar, orientar e estimular cada vez mais o gosto pela música. Além da introdução à prática instrumental, também ensina uma nova linguagem. Assim termos como partituras, claves, notas, pauta ou pentagrama aos poucos são inseridos no vocabulário e na rotina dos novos músicos.
Henriette fala da importância da iniciação com a experiência de quem está há oito anos à frente do projeto. “A música faz parte da educação do ser humano. Desenvolve a sensibilidade, favorece a socialização e o desenvolvimento da coordenação física e intelectual”, justifica.
Nesta primeira fase, todos são iniciados com a flauta doce. Segundo Henriette, a partir do segundo semestre os alunos entram em contato com outros instrumentos que compõe a Banda dos Bombeiros – das famílias dos metais, madeira e percussão -, e só depois desse estágio cada um vai fazer a escolha do “seu instrumento”.
Talentosos
Gabriel da Silva Machado, 11 anos, que integra o Bombeiro Mirim há dois anos, não precisa esperar para decidir qual instrumento vai optar. Sonha com a flauta transversal. Ele conta que sempre quis ser músico e se esforça para se destacar. Além das aulas no projeto de música dos bombeiros, frequenta outra escola. “Gosto da arte da música”, resume.
A pequena Rúbia Carolina Machado de Farias, 11 anos, é prova de que santo de casa faz milagres, sim! A inspiração são as irmãs que tocam saxofone e bombardino (eufônio). E é com elas que “afina” o aprendizado que obtém na corporação – em casa estudo com as partituras das irmãs. “Estudar música é legal”, Rúbia resume com simplicidade.
Um exemplo
Ao toque do alarme que aciona a equipe de atendimento pré-hospitalar, o bombeiro socorrista da equipe Delta, Marco Antônio dos Santos, deixa partitura e flauta doce de lado e segue para a ambulância. São minutos de uma “distração salutar” para os alunos da iniciação musical. Marco Antônio faz parte do grupo e adultos da iniciação musical e é, para os pequenos, um exemplo de trabalho e determinação. A interação entre eles é tamanha que cabe aos demais alunos recordar e repassar as tarefas que o socorrista perdeu durante o atendimento a ocorrência.
Para o socorrista executar um instrumento a partir da leitura de notas musicais é um desafio. “Fico deslumbrado, admiro a persistência nos ensaios e o resultado final”, diz. Ele faz parte do time que já tem um instrumento do coração: “Gostaria de aprender a tocar instrumentos de sopro e acho muito bonito o som do sax barítono Vou estudar para isso!”
Além do gosto pela música, um sonho faz Marco Antônio persistir na iniciação musical. Pai de um menino de sete meses, ele deseja para o filho um futuro entre notas e pautas. “Quando estou com as crianças, o vejo no futuro em uma sala de aula de música!”