O prédio histórico da Unidade Central do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, inaugurado em 1956 na festa em comemoração aos 64 anos da corporação, agora integra o patrimônio cultural, arquitetônico e urbanístico do município. O tombamento definitivo foi homologado por meio de portaria publicada no Diário Oficial (Portaria Nº 86/ 2020), da Secretaria de Cultura e Turismo no dia 27 de outubro. Atualmente local abriga o comando do CBVJ, o Centro de Atividades Técnicas (CAT) e o Museu Nacional dos Bombeiros Voluntários.
O tombamento do prédio foi solicitado pela Associação Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, em 2019, com o propósito de integrar conjunto de construções que preservam a memória da cidade e também captar recursos, por meio de editais de apoio a cultura, para manter a estrutura. De acordo com o diretor executivo da Associação Corpo de bombeiros Voluntários de Joinville (ACBVJ), Matheus Cadorin, com o tombamento a corporação poderá contar, ainda, com os benefícios da outorga onerosa concedida por meio da lei complementar 539, de 13 de setembro de 2019. “A sede Bombeiros Voluntários vai integrar de vez o roteiro turístico da cidade. Queremos que a comunidade interaja ainda mais com os bombeiros e que o turista que vem a Joinville conheça também a história da corporação, singular na nossa cultura.”
O prédio de 832,4 metros quadrados e dois pisos da Unidade Central substituiu a primeira sede dos Bombeiros Voluntários, uma construção em enxaimel com quatro garagens e uma torre, inaugurada em 1913. Conforme a museóloga e coordenadora de projetos da Associação, Dolores Tomaselli, a obra traz característica da arquitetura dos anos 1950, período de urbanização acelerada da cidade – a torre de 21 metros, por sua vez, era ponto mais alto da cidade à época da inauguração. É um marco, também, do “primeiro renascimento” dos Bombeiros Voluntários de Joinville, quando foi instituída a figura do presidente da Sociedade, responsável pela gestão administrativa e financeira.
Um pouco da história – As atas das reuniões do Conselho Administrativo e da Diretoria detalham os principais momentos dessa construção, como a formação de uma comissão técnica para elaborar o plano de construção, em 17 de dezembro de 1953; a apresentação da planta, em 27 de agosto de 1954; e o lançamento da pedra fundamental, em 17 de outubro do mesmo ano, um evento tão importante na cidade que até o governador do Estado foi convidado. Na página 54 do livro de atas número 3 – aberto em 21 de fevereiro de 1945, o ajudante Alvino Tilp detalhou a festa da cumeeira realizada no dia 19 de janeiro de 1956, quando o telhado foi erguido. “Com churrasco e chope, a festa se estendeu até as 2 horas da madruga.”
Conforme as anotações das atas, a inauguração do prédio, no dia 14 de julho de 1956 em comemoração aos 64 anos dos Bombeiros Voluntários, teve cinco grandes momentos: diretoria e comando foram ao encontro do governador Jorge Lacerda no km 4 da Estrada Santa Catarina (hoje a BR-101) “onde encontrava-se grande multidão”; recepção oficial às autoridades na Praça Monte Castelo (junto a estação ferroviária) e, às 16h30, caravana que seguiu para a rua Jaguaruna onde ocorreu o ato da inauguração com corte da fita simbólica e discursos. Mais tarde, os convidados participaram de um jantar no salão de festas da Sociedade Harmonia Lyra e, finalmente, o Baile dos Bombeiros, na Liga das Sociedades.
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Como está hoje – Nos 61 anos seguintes, até agosto de 2017, o prédio foi ocupada pelo operacional – o Museu Nacional dos Bombeiros Voluntários ocupa parte dele desde 1997. Atualmente, abriga a recepção, as salas do comando e da chefia das equipes operacionais, e o Centro de Atividades Técnicas (CAT). Desde 2016 passa por reformas: primeiro, a recuperação da torre, obra concluída nos festejos dos 125 anos da corporação, em 2017; há dois anos foi feita outra grande intervenção, a restauração da cobertura entre a torre e o corpo principal do prédio, resgatando o visual e função original – foram retiradas duas janelas e a parede até a altura do guarda-corpo, retomando o uso do espaço como um terraço descoberto junto a torre. A completa restauração do prédio histórico do CBVJ ainda prevê outras duas etapas a serem concluídas em meados de 2022: a readequação da área do Museu com ampliação para o segundo piso e, por fim, a instalação de uma área de convivência.
Conforme Dolores, a ética dos Bombeiros Voluntários sempre foi preservacionista. “Preservamos vidas; preservamos patrimônio e também preservamos nossa memória, desde tempos idos,” disse. Para ela, o tombamento do prédio, aliado à índole dos bombeiros, “será uma ganho significativo para o patrimônio histórico da cidade.”
(Fotos: Acervo do Museu Nacional dos Bombeiros Voluntários)
Íntegra da portaria
PORTARIA SEI – SECULT.GAB/SECULT.UPM/SECULT.UPM.APC
PORTARIA Nº 86/ 2020.
HOMOLOGA O TOMBAMENTO DEFINITIVO DO IMÓVEL LOCALIZADO NA RUA
JAGUARUNA, Nº 13, DE INSCRIÇÃO IMOBILIÁRIA Nº 13.20.13.99.0453.000, REFERENTE AO PROCESSO DE TOMBAMENTO POR ANUÊNCIA Nº 001/2019.
O Secretário de Cultura e Turismo, no exercício de suas atribuições legais que lhe são conferidas pela legislação em vigor e, Considerando o preceito na Lei Municipal nº 1.773 de 1º de dezembro de 1980 que dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico, cultural, arqueológico, artístico e natural do Município;
– Considerando a necessidade de preservar e proteger o patrimônio cultural do Município de Joinville;
– Considerando a relevância do bem e o seu valor histórico, cultural, urbanístico, arquitetônico e singular do imóvel localizado na Rua Jaguaruna, nº 13, de inscrição imobiliária nº 13.20.13.99.0453-000, matrícula nº 49.547;
– Considerando a necessidade de salvaguardá-lo de ações que prejudiquem sua integridade e ambiência;
– Considerando o pronunciamento da Comissão do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Natural do Município de Joinville – COMPHAAN no processo em referência;
– Considerando a anuência do proprietário ao tombamento definitivo;
HOMOLOGA:
Art. 1º Fica homologado para os efeitos da Lei Municipal nº 1.773 de 1º de dezembro de 1980, o tombamento definitivo do patrimônio imóvel edificado localizado na Rua Jaguaruna, nº 13 de inscrição imobiliária nº 13.20.13.99.0453-000, referente ao Processo de Tombamento nº 001/2019.
Parágrafo único – Fica definido o Nível de Preservação Parcial (PP).
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
José Raulino Esbitescoski
Joinville, 27 de outubro de 2020.